sábado, 18 de abril de 2009

O Autor


Nascido em 24 de julho de 1890, em Campinas - SP, Guilherme de Almeida era filho de Estevam de Araújo Almeida (jurista e professor de direito) e Angelina de Andrade Almeida. Estudou nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e N. Sra. do Carmo, de São Paulo. Em 1912, formou-se em direito e passou a exercer as atividades tanto no ramo da advocacia como na área jornalística. Trabalhou ainda como cronista social e crítico cinematográfico, além de ter atuado como redator de diversos jornais paulistanos, entre eles "O Estado de S. Paulo".
Fez sua estréia literária com o livro "Nós", em 1917. Logo em seguida publicou mais quatro livros: A Dança das Horas (1919), Messidor (1919), A suave colheita, Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920) e Era uma vez... (1922).
Manuel Bandeira fez o seguinte comentário sobre as obras citadas acima: “Todos eles pertencentes ao clima parnasiano-simbolista, todos cinco revelando um habilíssimo artista do verso, que, com mais fundamento ainda do que Bilac, poderia dizer que imita o ourives quando escreve".
Guilherme de Almeida era um sonetista exímio, que possuía um estilo bem pessoal, pois tratava o verso com extrema habilidade e, ao mesmo tempo, dava liberdade às imagens. Quando Manuel Bandeira disse que ele tinha "mais fundamento ainda do que Bilac", estava referindo-se à formação do poeta, que sabia latim, grego e era um profundo conhecedor da cultura renascentista.
Em 1922, participou da Semana da Arte Moderna e ajudou a fundar a revista Klaxon. No ano de 1948 entrou para a Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira do seu pai. Em 1930 foi eleito para ocupar a cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo Amadeu Amaral. No dia 21 de junho do mesmo ano, foi recebido pelo acadêmico Olegário Mariano. E, ainda em 30, com a publicação da obra "Você", percebeu-se que a fase "modernista" do poeta chegou ao fim. Os poemas voltam a ter a forma fixa de soneto e os versos voltam a ser metrificados e com rimas raras.
Alistou-se como soldado na revolução de 1932, defendendo a causa constitucionalista e foi exilado para Portugal por oito meses. Lá, foi considerado um dos maiores poetas da língua. Voltou do exílio em 1º de agosto de 1933.
No ano de 1936 Guilherme de Almeida encontrou-se com o cônsul japonês no Brasil, Kozo Ichige. Coincidência ou não, nesse mesmo ano começou a escrever "haicais em português".
Em 1945 funda o Jornal de São Paulo, que é temporariamente fechado pelo Estado Novo. Em 1949, junto com Franco Zampari, ajuda a fundar o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). No ano seguinte, é nomeado chefe de gabinete do Prefeito de São Paulo, Lineu Prestes. Em 1959, Guilherme de Almeida é eleito, em concurso instituído pelo Correio da Manhã, "Príncipe dos Poetas Brasileiros".
Faleceu no dia 11 de julho de 1969, vítima de uremia. Seu corpo foi transportado por um carro do corpo de bombeiros com escolta de lanceiros da Força Pública para a Academia Paulista de Letras, e foi sepultado no parque Ibirapuera, em São Paulo.


“É importante saber que Guilherme de Almeida não foi apenas um poeta. No decorrer do período que esteve literalmente ativo Guilherme foi: cronista, tradutor, autor teatral, crítico de cinema e até escreveu obra infantil (O Sonho de Marina – Ed. Melhoramentos, SP – 1941).”

Capas da revista Klaxon

Capa da 1ª edição


Capa da 2ª edição


Capa da 3ª edição

Entrevista de Maria Thereza Cavalheiro e Texto de H. Masuda Goga

1) Parte de uma entrevista concedida por Guilherme de Almeida para a poetisa, contista, advogada e jornalista, Maria Thereza Cavalheiro-São Paulo.
(Retirada do blog "Retalhos do Modernismo" de Luiz de Almeida).


Há de se registrar um fato importante. Guilherme de Almeida foi um dos primeiros poetas brasileiros a escrever haicais. E os publicou em Poesia Vária, lançado em 1947. Eu tinha então dezoito anos e fiquei encantada com os [Aqui a tira apresenta um furo. Por dedução creio que a autora escreveu: “(...) encantada com os poemas ou poemetos”, como são tratados]. (...) de aniversário [deduzo que esteja escrito: “No dia ou Na Festa”] de sua sobrinha Anna Maria (10-9-47), disse ao Poeta do meu entusiasmo pelos seus haicais. E ele contou, muito indignado, que muitas pessoas, incluindo críticos, esteavam dizendo que ele havia feito “charadas”.
Podemos entender, assim, perfeitamente, porque Guilherme de Almeida deu título aos seus haicais e criou um tipo de rima específica para essa composição poética. Os “haicais guilherminos” passaram a ser elaborados por bons haicaistas, entre os quais se destacam Cyro Armando Catta Preta, de Orlândia-SP, e o saudoso José Fernandes Soares.
Sabe-se que o haicai japonês é composto de três versos de cinco, sete e cinco sílabas respectivamente, sem rimas e sem título, com temas ligados à natureza. Ao transpô-lo para a nossa língua, Guilherme de Almeida rimou o primeiro com o terceiro verso, e criou uma rima interna no segundo verso, com tônica na segunda e na sétima sílabas poéticas. Dessa forma, como bem disse Sérgio Milliet na apresentação de Poesia Vária (3ª. Ed. Cultrix), Guilherme de Almeida “nacionalizou o haicai” e “estabeleceu uma forma nova”.
E não só isso. Temos para nós que Guilherme de Almeida assim procedeu para tornar o haicai mais acessível ao gosto do nosso povo, mais fácil de ser aceito. Em nada procederiam a comentários de que Guilherme de Almeida não conheceria as regras do haicai. Na mesma ent.... [aqui falta um pedaço na tira e não teve como continuar, creio ser “entrevista”] – “havia um grupo de poetas japoneses, antigamente, que se reunia à rua da liberdade. Assisti a muitos de seus encontros. Faziam-se Jogos Florais: era dado um tema (lembro-me de que um deles foi ‘brisa da primavera’) e uns dois ou três poetas apresentavam os seus haicais. [outro rasgo e não consigo decifrar o que ela escreveu]. (...)
Não é poesia de amor: é de estação. O haicai é como um verbete de dicionário. E deve ser, antes de tudo, espontâneo: o haicai é obtido como quem pega um inseto em vôo. Se escapar, escapou, e não se consegue mais fazê-lo. Porque deixa de ser sincero. O haicai se impõe. É ele que vem a nós. Pois bem: uma vez, com surpresa minha, notei que o tema dado era sobre o jacarandá. Surgiu então uma querela: discutia-se a época de sua florescência, indispensável à composição do haicai, que é, como se disse, antes de tudo, uma poesia de estação. Com maior espanto meu, um dos japoneses tirou do bolso um dicionário botânico brasileiro em japonês, para esclarecer a dúvida. Pois a poesia japonesa é uma poesia botânica, e os conhecimentos botânicos são indispensáveis ao poeta... Passei também a fazer haicais, que foram traduzidos por um intérprete, após passar uma prova, que todos julgaram. A poesia, no Japão, é obrigatória. Não importa a profissão do indivíduo. “Recordo-me que um dos componentes do grupo era agricultor, outro marceneiro, outro fazia serviços domésticos”. [a tira termina aqui].

2) Texto de H. Masuda Goga.
(Concedida pelo prof. André Luiz Ferreira Santana).

Guilherme de Almeida e eu


Em 1952, Guilherme de Almeida assumiu o cargo de presidente da Comissão Executiva do IV Centenário de São Paulo, cujo escritório foi estabelecido no edifício dos Diários Associados, sito à rua Sete de Abril, no centro da cidade.

Como repórter do Jornal Paulista - diário bilíngüe em japonês e português, publicado em São Paulo - queria indagar se a referida comissão aceitaria a doação comemorativa a ser oferecida pela colônia japonesa aos cidadãos da capital bandeirante. Por esse e por outros motivos, avistei-me repetidas vezes com o responsável pela comissão, durante todo o período de preparação das festividades.

Na primeira entrevista, o poeta perguntou-me se apreciara a coletânea Poesia Vária, publicada em 1947. A minha resposta foi positiva. Ele ficou contentíssimo e começou a falar sobre o haicai.

Além da obra acima citada, um trabalho intitulado Os meus haicais já havia sido publicado em O Estado de S.Paulo do dia 28 de fevereiro de 1937. Perguntou-me o que eu achava dos seus haicais. Eu, com bastante coragem, apresentei-lhe algumas opiniões. Gostando de minha atitude sincera e honesta, ele, por sua vez, expôs seus pontos de vista relativos ao haicai, que adorava imensamente.

Sua admiração pela forma concisa de apenas 17 sílabas, ou melhor, 17 sons, era máxima. Após agradável conversação, leu um trecho de Os meus haicais, com gesto algo didático:

- Uns 30 livros de versos escritos e uns 20 publicados levam-me à conclusão calma (que não é uma negação à minha nem um sarcasmo à obra dos outros) de que não há idéia poética, por mais complexa, que despida de roupagens atrapalhantes, lavada de toda excrescência, expurgada de qualquer impureza, não caiba estrita e suficientemente , em última análise, nas 17 sílabas de um haicai.

A seguir, explicou-me um aspecto lingüisticamente semelhante que se observa nas duas línguas (português e japonês), citando como exemplos:

"Leva-me esta carta
Ao meu namorado"

"Nem tudo o que é luz é ouro"

"Tanto dá até que fura"

Guilherme queria mostrar-me que as frases faladas ou escritas em português de cinco ou sete sílabas não faltam no diálogo cotidiano ou na poesia popular, tal qual acontece no idioma nipônico. Por minha parte, fiz explanação sobre os conceitos mais importantes do haiku original, historicamente chamado “hokku”, que exige o termo de estação do ano e dei-lhe o meu parecer sobre o título que se coloca para cada haicai. Entretanto, não toquei no assunto da rima, porque o haicai em língua luso-brasileira soa suave e agradável quando rimado. Apenas informei-lhe que o haiku original ignora a rima propriamente dita. Ele aceitou parcialmente o meu critério; sustentou, porém, o seu próprio ângulo e disse-me que estaria contrariando, até certo ponto, a autoridade de Kyoshi Takahama, grande mestre do haiku e defensor do tradicionalismo. Acho que a atitude de Guilherme resida, talvez, na adaptação do haiku mais livre, a qual evitaria mera imitação do original.

Guilherme mantinha relações de amizade com Kozo Itige (1894-1945), cujo nome haicaístico era Gyosetsu e que era cônsul-geral do Japão em São Paulo, no fim da década de 30. Convidado pelo cônsul-haicaísta, teve oportunidade de assistir a reuniões de haiku, realizadas pelo pessoal ligado ao mestre Keiseki Kimura (1867-1938), que liderava um grupo de “haijin” paulistano.

Quando teve lugar o simpósio sobre cultura japonesa, em comemoração ao 60º aniversário da imigração japonesa para o Brasil, em 18 de junho de 1968, Guilherme foi convidado como um dos palestrantes pelo centro de Estudos Nipo-Brasileiros de São Paulo, organizador do evento, e do qual sou associado. Esperei, até o último momento, a sua presença; mas, por algum motivo, ele não compareceu.

Relembrando-me, agora, daquela troca de idéias sobre o haicai, devo reconhecer o esforço dinâmico do saudoso Príncipe dos Poetas Brasileiros: sem dúvida, ele estimulou o abrasileiramento da mais concisa poesia de origem japonesa.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Canção do Expedicionário e Hino dos Bandeirantes




Canção do Expedicionário (Letra: Guilherme de Almeida)

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Você sabe de onde eu venho?
E de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.




Hino dos Bandeirantes (Letra: Guilherme de Almeida)

Paulista, pára um só instante
Dos teus quatro séculos ante
A tua terra sem fronteiras,
O teu São Paulo das "bandeiras"!

Deixa atrás o presente:
Olha o passado à frente!

Vem com Martim Afonso a São Vicente!
Galga a Serra do Mar! Além, lá no alto,
Bartira sonha sossegadamente
Na sua rede virgem do Planalto.
Espreita-a entre a folhagem de esmeralda;
Beija-lhe a Cruz de Estrelas da grinalda!
Agora, escuta! Aí vem, moendo o cascalho,
Botas-de-nove-léguas, João Ramalho.
Serra-acima, dos baixos da restinga,
Vem subindo a roupeta
De Nóbrega e de Anchieta.

Contempla os Campos de Piratininga!
Este é o Colégio. Adiante está o sertão.
Vai! Segue a entrada! Enfrenta!
Avança! Investe!

Norte - Sul - Este - Oeste,
Em "bandeira" ou "monção",
Doma os índios bravios.

Rompe a selva, abre minas, vara rios;
No leito da jazida
Acorda a pedraria adormecida;
Retorce os braços rijos
E tira o ouro dos seus esconderijos!

Bateia, escorre a ganga,
Lavra, planta, povoa.
Depois volta à garoa!

E adivinha através dessa cortina,
Na tardinha enfeitada de miçanga,

A sagrada Colina
Ao Grito do Ipiranga!
Entreabre agora os véus!

Do cafezal, Senhor dos Horizontes,
Verás fluir por plainos, vales, montes,
Usinas, gares, silos, cais, arranha-céus!

Poesias (Nós, I, II, III e IV)

Nós I

Fico - deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.

E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
- "Que é feito dela?" - indagarão - coitados!
E os amigos dirão: - "Que é feito dela?"

Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;

irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!


Nós II

Nessa tua janela, solitário,
entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exílio, teu canário
canta, e eu sei que esse canto te consola.

E, lá na rua, o povo tumultuário
ouvindo o canto que daqui se evola
crê que é o nosso romance extraordinário
que naquela canção se desenrola.

Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,
calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.

E eu chorarei. Teu pobre confidente
ensinou-me a chorar tão docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.


Nós III

Mas não passou sem nuvem de tristeza
esse amor que era toda a tua vida,
em que eu tinha a existência resumida
e a viva chama de minha alma, acesa.

Nem lemos sem vislumbre de incerteza
a página do amor, lida e relida,
mas pouquíssimas vezes entendida,
sempre cheia de engano e de surpresa,

Não. Quantas vezes ocultei a minha
dor num sorriso! Quanta vez sentiste
parar, medroso, o coração de gelo!

- É que nossa alma às vezes adivinha
que perder um amor não é tão triste
como pensar que havemos de perdê-lo.


Nós IV

Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos,

e que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
como ela vai, como ele vai contente!"

E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...

E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto
hão de falar os teus cabelos brancos.

domingo, 5 de abril de 2009

Curiosidade: O Que Significa "Haicais"?

Haicai é um forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade.

Os poemas consistem em três linhas, contendo na primeira e na última cinco letras japonesas, e sete letras na segunda linha.

O principal haicaísta foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer desse tipo de poesia uma prática espiritual.

O primeiro autor a popularizar o haikai no Brasil foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema proposto por ele, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). A forma de haikai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticantes no Brasil.

Exemplo:

  • VELHICE

Uma folha morta.
Um galho, no céu grisalho.
Fecho a minha porta.

  • Definição clássica, geralmente encontrada nos dicionários:

Haicai:Forma de poesia surgida no séc. XVII e ainda hoje em voga, composta de três versos com cinco, sete e cinco sílabas, que geralmente tem como tema a natureza ou as estações do ano.

Etimologia: Do Japonês

Haikai: hai "brincadeira; gracejo" + kai "harmonia; realização".

Alguns Haicais

  • NOTURNO

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.

  • PESCARIA

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

  • INFÂNCIA

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".

  • O PENSAMENTO

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.

Principais Obras de Guilherme de Almeida


Poesia

  • Nós (1917)
  • A Dança das Horas (1919)
  • Messidor (1919)
  • Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920)
  • Era uma vez... (1922)
  • O Festim (1922)
  • A Frauta que Eu Perdi (Canções Gregas) (1924)
  • A Flor que foi um homem (Narciso) (1925)
  • Meu (1925)
  • Raça (1925)
  • Encantamento (1925)
  • Simplicidade (1929)
  • Você (1931)
  • Carta a Minha Noiva (1931)
  • Poemas Escolhidos (1931)
  • Castas que eu não mandei (1932)
  • Acaso – Versos de Todo Tempo (1938)
  • Cartas do Meu Amor (1941)
  • Tempo (1944)
  • Poesia Vária (1947)
  • O Anjo de Sal (1951)
  • Toda a Poesia (1952)
  • Acalanto de Bartira (1954)
  • Camoniana ( 1956)
  • Pequeno Romanceiro (1957)
  • Rua (1961)
  • Rosamor (1965)
  • Meus Versos Mais Queridos (1967)
  • Os Sonetos de Guilherme de Almeida (1968)


PROSAS:

  • Théatre Brésilien (1916)
  • Natalika (1924)
  • Do Sentimento Nacionalista na Poesia Brasileira (1926)
  • Ritmo, Elemento de Expressão (1926)
  • Gente de Cinema (1929)
  • O Meu Portugal (1933)
  • A Casa (1935)
  • O Sonho de Marina (1941)
  • Gonçalves Dias e o Romantismo (1945)
  • Histórias, Talvez... (1948)
  • Baile de Formatura (1953)
  • Cosmópolis – São Paulo/29 (1962)


TRADUÇÕES:

  • Eu e Você (1932) – (Toi et Moi) de Paul Géraldy. São Paulo. Companhia Editora Nacional. Poesia;
  • O “Gitanjali” (1932) – de Rabindranath Tagora. Rio de Janeiro. Ed. José Olympio. Prosa Poética;
  • Poetas de França (1936) – São Paulo. Companhia Editora Nacional. Com poemas de 24 autores, em edição bilíngüe;
  • “Suíte” Brasileira (1936) – Terceira Parte de “Quatre Continents”, de Luc Durtain. Poesia;
  • O Jardineiro (1939) – De Rabindranath Tagore. Prosa Poética;
  • João Pestana (1941) – De Hans Christian Andersen. Prosa;
  • João Felpudo (1942) – De Wilhelm Busch. Prosa;
  • O Amor de Bilitis – Algumas Canções (1943) – De Pierre Louys. Rio de Janeiro. Ed. José Olympio. Prosa;
  • O Camondongo e Outras Histórias, Corococó e Caracacá, O Fantasma Lambão (1943) – De Wilhelm Busch. Prosa;
  • Pinocchio (1943) – De Collodi. Prosa. Versão Livre;
  • Flores das “Flores do Mal” (1944) – De Baudelaire. Rio de Janeiro. Ed. José Olympio. Com 21 poemas de Baudelaire, em edição bilíngüe, com carvões de Quirino;
  • Paralelamente a Paul Verlaine (1945) – São Paulo. Martins. Poesia com “Minha Carta a Paul Verlaine no Centenário do seu Nascimento”;
  • A Mosca (1946) – De Wilhelm Busch. Prosa;
  • Uma Oração de Criança (1946) – De Rachel Fields. Prosa;
  • As Palavras de Buda (1948) – Prosa;
  • Entre Quatro Paredes (1950) – (Huis Clos), de Jean-Paul Sartre. Peça levada dois anos antes no Teatro Brasileiro de Comédia, do qual o poeta foi um dos diretores;
  • A Cartola (1951) – De Wilhelm Busch. Prosa;
  • A Antígone de Sófocles (1952) – São Paulo. Alarico. Drama em versos, traduzido diretamente do grego, apresentado posteriormente por Adolfo Celi no Teatro Brasileiro de Comédia;
  • Na Festa de São Lourenço (1956) – De José de Anchieta. Auto em versos – tradução das partes em tupi e castelhano;
  • Jornal de um Amante (1961) – (Journal d’un Amant), de Simon Tygel. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira. Prosa;
  • Festival (1965) – De Simon Tygel. Poesia em edição bilíngüe;
  • Arcanum (1965) – De Niles Bond. Poesia em edição bilíngüe. Capa e desenhos de Guilherme de Faria;
  • História de uma Escada (1964) – De Antonio Buero Vallejo. Peça Teatral.


OUTROS TRABALHOS:

  • As Armas (1926) – Filme de Cassiano Gabus Mendes. Colaborador;
  • O Estudante Poeta (1940) – Peça teatral, em colaboração com Jayme Barcelos, lida no Teatro Boa Vista;
  • A Marquesa de Santos (1941) – Colaborou na versão portuguesa desse filme;
  • Iara (1946) – Fez o argumento do bailado “Iara”, apresentado no Teatro Municipal de São Paulo, com música de Francisco Mignone e cenários de Portinari;
  • Filmes (1951) – Trabalhou nos diálogos dos filmes “Terra sempre Terra” e “Apassionata”.